quinta-feira, 15 de outubro de 2009

“Cobra que não anda não engole sapo.” (adágio popular)


Cabine assaltada na na Praia de Botafogo


O assalto à cabine da PM na Zona Sul do Rio de Janeiro, nesta semana, comprova a fragilidade do policiamento parado, seja qual for o modelo, exceção para as blitze organizadas em aparato. Ainda bem que nesse último caso ocorrido, mui vergonhoso, por sinal, o Cabo PM não foi assassinado, como geralmente ocorre com muitos colegas dele em imagens trágicas. Pior é que os fundamentos para estacar o policiamento ostensivo são diametralmente opostos aos princípios da frequência máxima a inibir a oportunidade do delito.

Existe um fundamento operacional que anda esquecido desde muito tempo, e que se resume na seletividade do uso da força. A força do policiamento ostensivo está na máxima frequência do patrulhamento a impressionar o contumaz delinquente. Mas patrulhamento ostensivo maximizado implica mais viaturas, gasolina suficiente e outros meios que vão da estruturação de radiopatrulhas, mais adequadas à prevenção, às formas de patrulhamento mais repressivas (PATAMO, PAMESP, comboios etc.).

Esses modelos mínimos de ostensividade, como cabines, barracas e outros, não passam de artifício operacional para agradar algumas comunidades não esclarecidas a respeito de sua inutilidade na prevenção e na repressão ao crime. Porque cravar feito poste uma cabine significa gastar efetivo para tomar conta dela, e, do modo como as coisas estão, isto é sonho afastado da realidade de uma criminalidade violenta, decidida e impune que grassa calamitosamente a tessitura social do Grande Rio e até do interior do Estado.

Claro que não cabe somente à PMERJ solucionar o problema da criminalidade. Entretanto, o preço que ela paga há de ser maior devido à visibilidade que o patrulhamento ostensivo naturalmente possui e que faz o povo esquecer-se do resto. Mas esta visibilidade não pode ser invertida e pervertida em seus conceitos básicos, que se resumem na impressão de onipresença do patrulhamento, o que somente se consegue dando mobilidade ao patrulhamento motorizado e a pé, este último restrito a locais de grande movimento de pedestres (ruas comerciais, por exemplo). Mesmo assim, o patrulhamento a pé deve estar escorado por um sistema de força facilmente acionável, via rádio de mão, como se vê em tudo que é canto do mundo. Estacar o homem é consagrar o antipoliciamento ostensivo; com efeito, é mais barato plantar árvore para se fingir floresta, o que faz lembrar o poeta inglês William Blake: “O povo não vê a árvore que o sábio vê.”

Não adianta plantar PMs aqui e ali para o povão vê-lo isoladamente e se sentir protegido. Essa lógica é cruel para o PMs (muitos nem têm onde atender às suas necessidades fisiológicas) e enganosa para o destinatário dos serviços policiais militares. Pior é que a corporação não reage para resgatar sua dignidade operacional, mesmo assistindo a reiterados episódios desmoralizantes nas páginas dos jornais, como é o caso ora comentado.

A continuar assim, a PMERJ se encaminha à falência de sua decrescente legitimidade. Quando houver o golpe final da extinção, ninguém sentirá falta dela nem irá reclamar da sua ausência. O povo está acostumado a não ver o PM circulando suficientemente, e basta surgir uma instituição concorrente a fazer um bom trabalho ostensivo (as Guardas Municipais aí estão dando um bom exemplo...) e a PMERJ já era! Bem, se é o que a PMERJ quer, está conseguindo. Como diz o ditado popular, “cobra que não anda não engole sapo”...

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