quinta-feira, 27 de outubro de 2011


Quatro homens trocaram tiros com policiais; um deles usava colete à prova 

de bala e invadiu casa, ameaçando moradora

Por Tribuna
Policiamento foi reforçado no bairro
Policiamento foi reforçado no bairro

Quatro ocupantes de um carro são suspeitos de abrir fogo contra viaturas da Polícia Militar que faziam patrulhamento no Bairro São Benedito, na região Leste, na noite da última terça-feira. Os policiais chegaram à comunidade depois de denúncias recebidas pelo Centro de Operações da corporação, dando conta de que um grupo exibia armas longas pelas ruas, intimidando a população e ordenando que as pessoas entrassem em suas casas. Todo o efetivo policial disponível foi direcionado para a região. Ao chegar ao bairro, o carro de uma das equipes da Rotam foi alvejado e houve tiroteio. Um policial do Grupo de Ações Táticas Especiais chegou a ser atingido por estilhaços. Durante a fuga, um homem, que terminou preso, invadiu e efetuou disparos dentro de um imóvel onde moram várias famílias. Pelo menos três mulheres e duas crianças estavam no local no momento da invasão.
Após cerca de três horas de trabalho dos militares, o suspeito abandonou duas pistolas carregadas e aceitou se entregar. Ninguém ficou ferido. Uma carabina ponto 30, arma semelhante a um fuzil, foi localizada pelos policiais em um matagal na região do confronto, junto com uma bolsa, contendo cerca de 160 munições de diversos calibres. Outras duas armas, uma pistola 380 milímetros e outra ponto 40, de uso restrito, foram apreendidas, além de um colete à prova de balas usado pelo suspeito. Na manhã de ontem, o clima ainda era tenso no São Benedito. Poucos moradores permaneciam nas ruas, nenhum deles comentou a ocorrência.
Cerco
A PM ocupou o bairro, realizando cerco nos principais acessos e buscas aos demais suspeitos que teriam conseguido fugir. A informação é de que os quatro homens que ocupavam um Corsa surpreenderam os policiais com tiros, antes mesmo de qualquer abordagem. Os disparos foram efetuados de dentro do veículo, na esquina das ruas São Lourenço e Araxá, próximo à entrada do bairro. Após efetuar os disparos, o grupo abandonou o Corsa com as quatro portas abertas e correu. Os policiais iniciaram a perseguição, refazendo a rota dos suspeitos. O homem que terminou preso, 41 anos, já era investigado pela Polícia Federal por tráfico de drogas na região Leste e chegou a ser preso, junto com outros dois irmãos e mais de dez pessoas, na Operação Metralha, deflagrada em outubro de 2009. Na fuga, armado com duas pistolas e farta munição, ele obrigou uma mulher a lhe dar esconderijo dentro de um imóvel, no final da Avenida Agilberto Costa, principal via do bairro.
No local, militares e o suspeito trocaram tiros. As marcas dos disparos podiam ser vistas ontem nos muros. "A tropa foi muito profissional. Conseguiu se posicionar, se abrigar e conversar com o suspeito, mesmo com a necessidade de atirar. Primeiro, ele entregou uma pistola, depois chegou a ameaçar cometer suicídio. Mas, por fim, entregou a outra arma e terminou preso. O desfecho poderia ter sido muito diferente", avaliou o comandante da 3ª Companhia de Missões Especiais, major Paulo Henrique da Silva. O suspeito foi encaminhado para a Delegacia de Polícia Civil, em Santa Terezinha, onde foi autuado por tentativa de homicídio qualificado, porte ilegal de arma de uso restrito e por portar uma pistola 380, de uso permitido, mas que estava adaptada com silenciador, infringido o artigo 16 do Estatuto do Desarmamento. De acordo com o delegado Rodolfo Rolli, responsável pelo flagrante, se condenado, o homem, que já estava em prisão domiciliar, pode pegar até 40 anos de prisão. O suspeito foi encaminhado para o Ceresp.
Comunidade ocupada e clima tenso
Na manhã de ontem, o São Benedito ainda estava tomado por policiais. Na Rua São José, uma das principais ligações com as áreas mais centrais, uma equipe de militares monitorava o acesso e a saída do bairro. Em frente à casa onde o suspeito se escondeu, mais duas equipes faziam levantamentos de informações que pudessem levar à prisão de outros fugitivos. "A moradora ainda está muito assustada. A casa dela fica em uma área que já é conhecida pela polícia como rota de fuga, porque localiza-se no final da rua e tem o córrego que leva até o Vitorino Braga, além de uma saída para a mata", disse o tenente Reginaldo Teixeira. Na entrada do imóvel, havia uma câmera, mas o circuito de monitoramento não estava gravando.
Conforme o major Paulo Henrique da Silva, comandante da 3ª Companhia de Missões Especiais, o policiamento continua reforçado na região nos próximos dias, com um forte esquema de ocupação. O foco é a prisão dos suspeitos que conseguiram escapar. "Nessa fase, contamos com o apoio da população, por meio de denúncias. Quem vir alguma pessoa diferente ou movimentações suspeitas nas construções desocupados da região pode informar pelo telefone 190. Numa segunda fase, as ações serão mais pontuais, com cumprimento de mandados de busca e apreensão caso consigamos levantar informações consistentes. Todo o sistema de defesa social da cidade estará voltado para lá, numa operação de rápida resposta para que ações como a de ontem não se alastrem", garantiu.

Operação prende 23 policiais militares por corrupção em MS

PMs recebiam propina e permitiam a entrada de contrabando no País.


Paulo Fernandes e Nadyenka Castro 




Detalhes de como funcionava o esquema foram explicadas pelo Gaeco em entrevista coletiva (Foto: João Garrigó)
Apontados como parte de uma quadrilha que facilitava o contrabando de mercadorias, 23 policiais militares foram presos em Mato Grosso do Sul. Dois continuam foragidos.
Oito PMs foram presos na operação Holambra, na segunda-feira, com outras 13 pessoas. Em continuidade, teve início à operação “Fumus Malus” (Fumo do Mal) responsável pela prisão dos outros policiais.
Nas duas operações, foram cumpridos 31 mandatos de prisão. Cinco pessoas estão foragidas. Os PMs suspeitos estão no Presídio Militar de Campo Grande.
Todos os policiais envolvidos são do 12º Pelotão da Polícia Militar de Naviraí. Não está descartada a possibilidade de envolvimento de mais policiais e nem de oficiais.
Além dessas prisões, foram cumpridos 60 mandados de busca e apreensão domiciliar. Veículos usados no contrabando foram apreendidos, contas bancárias sequestradas.
A operação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) foi feita em parceria com a Polícia Federal, Receita Federal e a própria Polícia Militar.
Em entrevista coletiva nesta quarta-feira, no MPE (Ministério Público Estadual), a promotora do Gaeco Jiskia Sandri Trentin explicou como funcionava o esquema em que policiais militares recebiam propina para facilitar o contrabando.

Dois policiais envolvidos se apresentaram à corregedoria nesta quarta-feira (Foto: João Garrigó)

 Os policiais corruptos atuavam em dois grupos, em Sidrolândia. Um cuidava só de contrabando de cigarro. O outro, de outros tipos de contrabando, como pneus e roupas falsificadas. Todas as mercadorias vinham ilegalmente do Paraguai.
As propinas não seguiam uma tabela e oscilavam muito conforme o policial corrupto. Alguns corruptores eram mensalistas, outros negociavam de acordo com a quantidade e tipo de carga que iria passar pela fiscalização.
No trecho da fronteira a Campo Grande, o contrabando era feito em carros de passeio. Os contrabandistas contavam com olheiros com a missão de ver quem estava no posto e verificar se era o policial corrupto. Na Capital, a mercadoria passava para carretas e o carregamento seguia para estados vizinhos.
Já na Região Sul do Estado, além de receberem propinas, os policiais também estorquiam os contrabandistas exigindo o pagamento para a liberação de carregamentos retidos.
Há ainda a suspeita de que um PM agia como batedor e que outro também fazia contrabando de mercadorias vindas do Paraguai.
O Gaeco acredita que os contrabandistas agiam há seis ou sete anos, mas as investigações só começaram há um ano, a partir de denúncias feitas por duas adolescentes na região Sul do Estado.
Em Sidrolândia, a denúncia encaminhada ao Gaeco foi feita há nove meses pela promotora de Justiça Paula Volpe.
O Gaeco ainda apura o volume de contrabando que deu entrada no País por meio do esquema e o aumento de patrimônio dos policiais. Não há estimativa de quanto foi perdido de arrecadação com os crimes.
A Receita acredita que R$ 3 bilhões deixam de ser arrecadados no País por conta de contrabandos.

A promotora Jiskia Sandri Trentin acredita que com as prisões dos PMs haverá uma queda no contrabando porque “tiraram policiais corruptos e colocaram gente honesta que não vai permitir essa situação”.
“Eles eram agentes públicos que não tinham a menor condição de servir a população”, afirmou. “O contrabando é tão forte e tão peculiar em razão da conivência de agentes públicos que recebem propina”, resumiu a promotora.
Além de Mato Grosso do Sul, a operação contra o contrabando foi feita em Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Goiás e Amapá por determinação do Conselho Nacional dos Procuradores de Justiça.
Os policiais vão ser denunciados por corrupção passiva, concussão (exigir dinheiro ou vantagem em razão da função que ocupa) e formação de quadrilha. As investigações deverão ser concluídas em um período de 15 a 30 dias.
Comandante da PM, Coronel Carlos Alberto David dos Santos afirmou que todos os policiais presos serão avaliados pelo conselho de disciplina para verificar se têm ou não condições de continuar na corporação.
Ele afirmou que em 30 dias será apurada a participação dos PMs, mas já garante que “se o policial tiver participação nos crimes será excluído”.


Fonte: Campo Grande News