quinta-feira, 20 de outubro de 2011


Criminalidade leva 80% da população a mudar hábitosPesquisa divulgada nessa quarta-feira mostra que algum tipo de violência atingiu diretamente 30% da população no período de um ano. Por causa disso, 54% das pessoas deixaram de sair à noite

Publicação: 20/10/2011 07:51 Atualização: 20/10/2011 08:00
Atuação das Forças Armadas na segurança pública foi avaliada como ótima pela maioria dos 2.002 entrevistados, em 141 municípios do país (Credito Paula Giolito/Folhapress.)
Atuação das Forças Armadas na segurança pública foi avaliada como ótima pela maioria dos 2.002 entrevistados, em 141 municípios do país

A violência fez com que 80% dos brasileiros mudassem algum hábito no último ano, principalmente evitar andar com dinheiro. O dado é um dos mais contundentes da pesquisa “Retratos da sociedade brasileira: segurança pública”, feita pelo Ibope e divulgada nessa quarta-feira pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O levantamento mostra que 9% dos entrevistados foram furtados, assaltados ou agredidos nos últimos 12 meses, 19% sabem de parentes que sofreram algum desses crimes e 2% relataram violência tanto contra si como contra um familiar. Assim, 30% da população sofreu diretamente com a violência no período de um ano.

As maiores incidências de criminalidade foram registradas nas Regiões Norte/Centro-Oeste e Nordeste, onde, respectivamente, 43% e 33% dos entrevistados relataram terem sofrido eles próprios ou um parente furto, assalto ou agressão nos últimos 12 meses. O percentual também é elevado entre os residentes nas capitais (42%) e nas cidades com mais de 100 mil habitantes (38%).

O levantamento ainda revela que a violência restringe a circulação da população pela cidade – 54% dos consultados evitam sair à noite, 48% deixaram de circular por alguns bairros ou ruas e 36% mudaram o trajeto entre a residência e o trabalho ou a escola. Além disso, 79% presenciaram violência nos últimos 12 meses, sendo que a ocorrência mais comum é o uso de drogas na rua, crime relatado por 67% da população.

O combate ao tráfico é prioridade para a segurança pública na opinião de 58% dos entrevistados. No entanto, 90% concordam que ações sociais, como educação e formação profissional, contribuem mais para diminuir a violência do que ações repressivas. “É consenso entre a população brasileira que as políticas sociais são mais eficazes para a redução da violência, mas a grande maioria também defende punições mais duras contra o crime, sobretudo contra os mais violentos”, afirma o documento.

Instituições

Para a população brasileira, as Forças Armadas e a Polícia Federal são consideradas as instituições mais eficientes para a segurança pública, sendo avaliadas como ótima/boa e regular por, respectivamente, 90% e 89% dos entrevistados. Por outro lado, as instituições com pior popularidade são o Poder Judiciário, com 34% de avaliação ruim ou péssima, e o Congresso Nacional, mal avaliado por 45% dos consultados. A segurança pública aparece em segundo lugar em uma lista de 23 maiores problemas que o Brasil enfrenta, perdendo apenas para a saúde. O tráfico e o uso de drogas aparece na terceira colocação.

No geral, 51% dos brasileiros consideram a situação da segurança pública no país ruim ou péssima, e 36%, regular. Apenas 12% a avaliam como ótima ou boa. Além disso, só 15% da população percebeu alguma melhora na situação da segurança pública nos últimos três anos. Já para 37% o quadro piorou. Para tentar reverter essa situação, 84% defendem o uso das Forças Armadas no combate à criminalidade.

PCC planejava atacar polícia para agir em Minas

De acordo com a polícia, o Estado era considerado uma “prioridade” nos planos de expansão da quadrilha


CRISTIANO COUTO
pcc
Líderes do Primeiro Comando já estão sob a tutela do Estado
Os bandidos que lideravam o Primeiro Comando da Capital (PCC), em São Paulo, em 2006, chegaram a planejar uma série de atentados que seriam cometidos na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). O objetivo era abrir as portas para a organização criminosa montar uma filial em Minas Gerais. O Estado era considerado uma “prioridade” nos planos de expansão da quadrilha.
Nesse planejamento estavam previstos ataques contra delegacias e unidades da Polícia Militar e os seus membros, tendo como exemplo a série de atentados promovidos em São Paulo naquele ano e que resultaram na morte de policiais.
As informações foram fornecidas por um delegado lotado no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) de São Paulo, que pediu o anonimato temendo represálias por parte dos bandidos. Naquela época, o policial trabalhou nas investigações sobre os atentados executados pelo PCC.
- Sgt Wellington - Colaborador
O jornalista Josmar Jozino, autor do livro “Cobras e Lagartos”, que conta a história do PCC de São Paulo desde a sua fundação, em 1993, confirma as informações. Por causa das denúncias contidas na publicação, Josmar passou a ser ameaçado de morte pelo comando da organização criminosa. Hoje, anda com escolta armada.
Essa fonte e mais o procurador da Justiça do Estado de São Paulo, Márcio Christino, afirmam que o Estado de Minas Gerais sempre foi uma das prioridades dentro dos planos de expansão do grupo criminoso.
“Minas era alvo do PCC por causa das possibilidades de expansão do tráfico e por ser um Estado central, rota de passagem e de fuga para diversas regiões brasileiras”, diz o delegado do Deic.

Na época, políticos integrantes da CPI das Armas, no Congresso, já analisavam as denúncias sobre os planos de expansão da organização criminosa, principalmente na direção de Minas e do Estado do Rio de Janeiro.

“Pelo que sei, o que impediu a entrada do PCC em Minas Gerais, naquela época, foi a ação rápida e enérgica da polícia mineira”, lembra o delegado do Deic. “Quando esse plano de crescimento da facção criminosa foi descoberto, as autoridades de Minas e do Rio foram avisadas, o que permitiu que a polícia mineira agisse para evitar que acontecesse no Estado o que aconteceu em São Paulo”, explica.

Outra pessoa que estuda e analisa as atividades do PCC é o jornalista André Caramante, da Folha de São Paulo. “Minas Gerais sempre esteve na mira dos criminosos”, declara.

No Estado mineiro, além da Região Metropolitana de Belo Horizonte, os líderes do PCC tinham outros dois alvos preferenciais: o Sul de Minas, como porta de entrada, e o Triângulo Mineiro, por causa do seu aspecto econômico.

Em 2007, a Polícia Militar apreendeu com um traficante, em Uberaba, um texto contendo o “estatuto do PCC”. O documento era direcionado para os interessados em fazer parte da associação criminosa na região.

Blog da Renata