segunda-feira, 14 de março de 2011

Deputado Major Araújo propõe desarmamento da PMGO

Em: Armas de Fogo, Polícia e Política, Polícia Militar
Autor: Victor Fonseca

Em Goiás, já foi aprovada preliminarmente em Plenário e seguiu para discussão e votação na Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJ) o projeto de lei nº 787 que em seu teor objetiva proibir “uso de armas letais, de fogo de qualquer calibre, pelos policiais militares, durante as diversas frentes de serviços realizadas pela Polícia Militar”. Enfim, um desarmamento geral da PMGO.

O mais surpreendente é que o deputado que o apresentou não é um dos “ólogos” que os policiais tanto se queixam, mas sim um Major, o senhor Major Araújo do PRB. A não ser que, para ignorância de muitos, o estado de Goiás tenha se tornado uma zona serena e tranqüila, livre da violência armada, a ideia parece ser carente de coerência e justificativa.

Policial militar desarmado é algo que costuma ser tolerado, com resistência, na composição de patrulhas em eventos especiais ou nas ações de controle de distúrbios civis, ainda assim porque sabe-se que o comando ou frações da tropa portarão esse recurso pronto para ser empregado caso surja necessidade. No dia-a-dia, nas atividades rotineiras como o rádio-patrulhamento, é algo descabido e imprudente, e por mais incrível que pareça, o anúncio é de que a lei visa justamente isso.

Com a palavra os PM’s goianos, que podem melhor comentar essa ideia, ou quem sabe até concordar com o projeto, o que surpreenderia muito…
FERNANDO BARBOSA


Com ironia. No dia da sua prisão, o soldado Jason parecia tranquilo e sorriu para os fotógrafos

O soldado Jason Ferreira Paschoalino, acusado de envolvimento nas mortes de dois moradores do aglomerado da Serra, no último dia 19, confessou ter sido ele o autor dos disparos à queima-roupa contra as vítimas. Preso há 19 dias, o soldado fez as revelações a psiquiatras e assistentes sociais da Polícia Militar que o visitam diariamente no Batalhão de Vespasiano, na região metropolitana, onde ele está detido.

Na versão que deu sobre o crime, à qual a reportagem de O TEMPO obteve acesso com exclusividade, o policial do Batalhão de Rondas Táticas Metropolitanas (Rotam) revelou uma personalidade que impressionou a equipe médica pela frieza. Disse que não se arrepende de ter matado os dois e chegou a zombar das vítimas. Nas várias horas de conversa com os especialistas, contou que entrou na Polícia Militar por diversão, "pelo prazer de matar".

Aos médicos e assistentes sociais, Jason assumiu sozinho a autoria dos disparos que mataram os moradores e disse que Jeferson Coelho da Silva, 17, foi executado porque tentou proteger o tio Renilson Veriano da Silva, 39, que, na versão do soldado, havia sido procurado pelos militares da Rotam para entregar o dinheiro de uma propina, pois teria ligação com o tráfico de drogas no morro. Na versão oficial da PM e de testemunhas, no entanto, nenhum dos dois tinha passagem pela polícia. "A frieza dele nos deixou chocados. Ele disse que não se arrepende", revelou uma fonte da Polícia Militar.

No dia 23 de fevereiro, quando foi preso, o soldado chegou a sorrir para os fotógrafos e cinegrafistas que o esperavam na porta do Instituto Médico Legal (IML), onde ele fez o exame de corpo de delito. Situação que, segundo a equipe que o atende, vem se repetindo dia após dia na carceragem.

Família.Apesar da aparente frieza em relação ao crime que provocou reação da comunidade da Serra, um ponto parece incomodar o soldado Jason. Casado há apenas seis meses com a estilista Bruna Rodrigues Gomes Costa, o policial demonstra nas entrevistas medo de que a mulher seja prejudicada profissionalmente com o escândalo.

Militares do Batalhão de Vespasiano confirmam que Bruna tem visitado o marido com frequência, mas as visitas acontecem quase sempre à noite. Procurada pela reportagem, a estilista não quis comentar o envolvimento do marido no crime e fez críticas à imprensa. "Sou formada em comunicação social e acho que a imprensa está exagerando. Estão expondo nossas vidas e julgando os meninos (policiais). Estão passando dos limites para vender uma manchete mais rentável", limitou-se a dizer.

Sigilo. Na cúpula da PM mineira, o escândalo envolvendo o soldado Jason é tratado com total sigilo.

Nos bastidores, a informação é de que ele pertence a uma família de policiais de alta patente, influentes na corporação. Justamente por isso, o caso estaria sob o controle direto do alto comando da polícia. Os relatórios sobre as sessões com o soldado são mantidos a sete chaves. Uma tia do soldado disse que a família não dará entrevistas.

Proteção

Cabo Fabio é poupado por colega do Rotam

Em depoimento à Polícia Civil e também na investigação militar sobre os crimes do aglomerado da Serra, o soldado Jason Ferreira Paschoalino não deu sua versão sobre o caso. No entanto, aos médicos e assistentes sociais fez questão de inocentar o colega de farda Fabio de Oliveira, 45, que se matou na prisão dois dias após ser preso acusado de envolvimento nas execuções no aglomerado.

Na versão dada à equipe médica, o soldado Jason disse que o colega, que na ocasião chefiava a equipe do Rotam, não teve qualquer envolvimento nos assassinatos. Jason explicou que o cabo Fabio, que tinha 23 anos de Polícia Militar, trabalhava no setor de manutenção do Rotam e na noite da ação no aglomerado estava cobrindo folga de um colega. "Ele não teve culpa nenhuma nisso", relatou.

Morte. O corpo do cabo Fabio foi encontrado na cela do 1º Batalhão no dia 25 de fevereiro. Segundo a PM, ele se enforcou com o cordão do short. (FB)

Policial confirma que versão das fardas foi inventada na hora

Na prisão militar, o soldado Jason Ferreira Paschoalino contou em detalhes como foi a operação forjada pelos militares do Rotam para entrar no aglomerado da Serra e cobrar a suposta propina de traficantes.

Ao falar com os médicos que o acompanham na prisão, Jason confirmou que os policiais simularam a troca de tiros e, com a chegada da imprensa, apresentaram a versão das fardas para reforçar a tese de que criminosos vestidos de policiais teriam recebido os militares a tiros.

O laudo parcial da perícia, no entanto, desmentiu a versão. Segundo a análise, Jeferson Coelho e o tio Renilson Veriano foram executados à curta distância, com uso de armas de grosso calibre.

Com a repercussão, o governador Antonio Anastasia cobrou apuração rigorosa do crime. A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia também acompanha a investigação. (FB)