Beltrami deixa QG da PM após mais de 30 horas preso
O ex-comandante do 7º BPM (São Gonçalo), coronel Djalma Beltrami, deixou o Quartel General da PM, no Centro, na madrugada deste sábado, após ficar preso pela segundo vez em menos de um mês. Acusado de tráfico de drogas e formação de quadrilha pelo Ministério Público, ele teve o pedido de habeas corpus concedido na noite de sexta-feira pelo Plantão Judiciário do Tribunal de Justiça (TJ), atendendo solicitação da defensora pública Cláudia Valéria Taranto.
Beltrami havia sido preso na manhã do dia 19 de dezembro e na tarde da última quinta-feira. Na primeira vez ele foi solto 44 horas depois. Desta vez, ele ficou pouco mais de 30 horas preso. Às 3h, um oficial de justiça chegou ao QG com o habeas corpus. Cinco minutos depois, uma Fiat levando o coronel deixou o quartel. Ele não falou com os jornalistas. O plantão do TJ confirmou que o ex-comandante deixou a unidade militar pouco depois da chegada do documento. O advogado dele, Marcos Spínola, também confirmou por telefone a saída de seu cliente.
A investigação policial que culminou na prisão de Djalma Beltrami foi comandada pelo delegado Alan Luxardo, da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo. Escutas telefônicas revelaram que policiais do 7º BPM, comandado pelo coronel por quatro meses, cobravam propinas de traficantes de São Gonçalo para não reprimir o tráfico de drogas em suas comunidades.
Nas primeiras escutas divulgadas pela POlícia Civil em dezembro, os comandados de Beltrami diziam aos bandidos que parte da propina paga iria para as mãos do “Zero Um”, interpretado pela polícia como sendo o então comandante do batalhão. A voz do de Djalma Beltrami, no entanto, não aparece em nenhuma dessas gravações. Ele sempre negou participação no esquema.
“Nunca recebi dinheiro de forma ilícita. São 27 anos de Polícia Militar e tudo que conquistei foi com meu salário e também com o que ganhei atuando como árbitro de futebol”, disse Beltrame, após ser solto pela primeira vez.
A decisão de prender o coronel causou atrito entre as polícias Militar e Civil. Oficiais da PM criticaram abertamente a investigação, chamada de ‘brincadeira’ pelo desembargador Paulo Rangel, o primeiro a conceder o habeas corpus a Djalma Beltrami.
Mar de lama volta a inundar quartel de São Gonçalo
Segundo o delegado Alan Luxardo, escutas telefônicas autorizadas pela Justiça revelam esquema de pagamento de propina pelo tráfico do Morro da Coruja para que os agentes não combatessem o crime. Investigação aponta que PMs recebiam pagamentos de R$ 160 mil mensais. Foram expedidos 24 mandados de prisão temporária (30 dias), sendo 13 para PMs, por tráfico, associação e corrupção.
Beltrami foi preso às 8h30 do dia 19 de dezembro, quando chegou à unidade que comandava há três meses. Ele negou as acusações, disse que fez operações contra o tráfico e que complementava sua renda como árbitro de futebol, tarefa que desempenha há 22 anos. A PM vai pedir esclarecimentos sobre as circunstâncias e a motivação da prisão do coronel, que foi para o Batalhão de Choque. O advogado dele vai pedir a revogação da prisão. Os outros PMs foram para a Unidade Prisional, em Benfica.
Grampos mostram que os PMs do Grupamento de Ações Táticas (GAT) do 7º BPM negociavam propinas com o chefão do pó na Coruja, Maicon dos Santos, o Gaguinho. Num trecho, em 11 de setembro, a conversa foi sobre pagamento de R$ 10 mil por semana, que supostamente seriam para o comandante. Cada patrulha do GAT receberia R$ 5 mil. Nos grampos não há conversas do coronel Beltrami. “Temos provas que o esquema funcionava depois da posse do comandante. Temos material bastante contundente sobre o esquema”, afirmou Alan Luxardo.
Depois do telefonema, os PMs se encontraram com suposto advogado de Gaguinho. Câmeras de posto de gasolina e o GPS das viaturas confirmaram a passagem pelo local. Os PMs do GAT foram transferidos para outros quartéis em 20 de setembro, a pedido de Beltrami. Gaguinho escapou.
Escutas
Escutas mostram suposto policial pedindo R$ 10 mil em nome do ‘comando’ pela retirada do policiamento.
Policial: “Vai ter que aumentar o negócio porque tem gente mais alta chegando. Vai ser tudo com o ‘zero um’.
Traficante: “Quero perder pra vocês e pro cara que assumiu agora, tenho condições de dar 10 (mil reais) pra ele por semana.”
Policial: “Tem que ser pra cada ‘gêmea’ (patrulha), por final de semana.”
Traficante: “(…) Tem como aumentar o de vocês mil (reais) e dar dez (mil reais) por semana para o comandante, arregar ele também”.
Policial: “A ideia era a gente conseguir tirar aquela porrada de viatura, comboio, Golzinho, tudo isso”.
Traficante: “Quero perder pra vocês e pro cara que assumiu agora, tenho condições de dar 10 (mil reais) pra ele por semana.”
Policial: “Tem que ser pra cada ‘gêmea’ (patrulha), por final de semana.”
Traficante: “(…) Tem como aumentar o de vocês mil (reais) e dar dez (mil reais) por semana para o comandante, arregar ele também”.
Policial: “A ideia era a gente conseguir tirar aquela porrada de viatura, comboio, Golzinho, tudo isso”.
PM pede dinheiro para ‘devolver’ traficante baleado.
Policial: “Manda logo o negócio, senão vou finalizar (matar). Perde três caixas (mil reais) aí. Já perde pelo final de semana e pelo garoto”.
Traficante: Nós ‘trabalha’ por barca (patrulha) e são muitas barcas. Também arrego o ‘número 1’. Vou mandar lá e ninguém vai roer”.
Policial: Duvido. Manda 1 caixa e meia (R$ 1,5 mil) por esse garoto aqui, que ele tá ‘vazando óleo’ (sangrando)”.
Fonte: O DIA ON LINE
Traficante: Nós ‘trabalha’ por barca (patrulha) e são muitas barcas. Também arrego o ‘número 1’. Vou mandar lá e ninguém vai roer”.
Policial: Duvido. Manda 1 caixa e meia (R$ 1,5 mil) por esse garoto aqui, que ele tá ‘vazando óleo’ (sangrando)”.
Fonte: O DIA ON LINE
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