“O que pensou? Que é um policial comum? Você é nosso produto. E nosso produto não pode se voltar contra nós, pode?”
Um policial perfeito, exato, que não se excede nem se esquiva de suas funções, um policial que não se cansa nem possui necessidades emocionais, um policial que não precisa de salário e que não morre. Enfim, este é o Robocop, o policial do futuro, uma criação cinematográfica clássica, lançado em 1987, que divertiu muitos espectadores atentos às suas três versões (Robocop, 1987, Robocop 2, 1990, eRobocop 3, 1993). Ao reassistir a primeira versão da trilogia, me dei conta da grande metáfora policial trazida pelo filme, que é mais profundo do que o que pensa o público que procura meramente diversão em Robocop. Na verdade, o filme antecipa uma discussão trazida atualmente pelos brasileiros Tropa de Elite e Tropa de Elite 2, não sendo à toa o convite ao Diretor José Padilha para direção da quarta versão de Robocop. Robocop, com a citada perfeição, é o modelo de policial escolhido para solucionar a questão da criminalidade em Detroit. A empresa gestora da polícia, a OCP, sigla de “Omni Consumer Products”, pretende criar um empreendimento para refundar as estruturas da cidade, mas só poderão fazê-lo após reduzirem o problema da criminalidade. Na ânsia das suas intenções capitalistas, a OCP testa soluções imediatas para a violência, e acaba chegando ao Robocop, um robô meio-humano criado a partir do corpo de um policial tido como morto em uma ocorrência, Murphy.
Este ponto é importante. Um dos executivos da OCP resolve utilizar Murphy num experimento onde a memória do policial é apagada, mas não sua habilidade policial. Tecnicamente ele permanece o mesmo, mas seus sentimentos, suas lembranças, suas experiências sociais e afetivas são, aparentemente, totalmente devastadas. Alie-se a isso uma programação que o impede de suplantar determinadas regras e uma estrutura robótica a prova de balas, além de potente armamento, temos então o policial perfeito.
Não é exagero se o leitor fizer referência às tentativas do “sistema” de tomar medidas drásticas para conter a violência – não buscando a paz, necessariamente, mas buscando objetivos capitalistas, tendo o poder como fim. Também não nos é estranha as reiteradas tentativas de ataque às individualidades, à subjetividade e à dimensão afetiva dos indivíduos, visto que a ausência destes fatores leva às práticas manipuladas, ao não questionamento, de modo que cada policial se torne, tal qual o Robocop inicialmente era: um instrumento de execução dos objetivos dele (salve José Padilha!)… O sistema. Robocop acaba por nos mostrar a necessidade da dimensão humana do policial para que a justiça em sua atuação seja aplicada. A cena-símbolo deste raciocínio (ver imagem acima) se dá quase no final do filme, quando Murphy (e não Robocop) se olha no espelho e se reconhece enquanto pessoa, para a partir daí agir com razoabilidade e justiça. Sem a presença deste fator subjetivo, o policial não é mais que um robô frio controlado por interessados pelo poder, um Robocop.
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